Realizando atendimento no seringal Montevidéu, na Comunidade Santa Helena, em Brasiléia; tive a honra de conhecer o senhor Otávio Nogueira, nordestino, baixinho, retirante do sertão cearense que encontrou nessas terras acreanas um lugar para fixar raízes. Levou a sério o preceito bíblico de criar e procriar.
Muitos filhos, netos e bisnetos. Dono de uma conversa franca, cativante. Um caboclo simples, mas de uma sabedoria incrível. Por muitos anos sindicalista em Brasiléia, um defensor dos agricultores e povos da floresta. Conversar com ele é vivenciar, sentir na essência como surgiu o movimento sindical nesta região.
Seu Otávio, como o conhecem na Comunidade Santa Helena, é do tipo de gente que gosto de conhecer, o nordestino expansivo! É daqueles com quem conversamos horas a fio sem que ele torne-se repetitivo. Uma conversa agradável. Ao ouvi-lo contar histórias ocorridas há décadas, tive a nítida impressão de que parecem ter ocorrido à bem pouco tempo, tamanho o entusiasmo desse amigo.
Das dificuldades enfrentadas ao chegar criança a nossa região; dos empates com os fazendeiros do sul do país que chegavam ao Acre; da vivência com Wilson Pinheiro e Chico Mendes; da luta no movimento sindical de Brasiléia; da aventura sem sucesso pela política, tudo isso faz parte do extenso repertório de Seu Otávio.
Aí um homem que merece ser homenageado nas festividades do centenário de Brasiléia. Afinal a história também é feita de homens e mulheres simples, do povo, da luta cotidiana por dias melhores – no caso do Acre, por nordestinos que vieram para juntar-se aos milhares de soldados da borracha espalhados pela Amazônia.